quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Mário Cesariny

♥ Há algo que não consigo entender… “o porquê” de só se começar a dar valor às pessoas depois da sua morte!!! De facto, já alguém me dizia, “…esta é a sociedade em que vivemos”, e infelizmente é mesmo assim que as coisas funcionam. Talvez, porque… "ali tudo terminou e agora é impossível haver continuidade", logo "há que dar valor aquilo que ficou, em memória de quem partiu!!!" É isto que se verifica com muitos nomes sonantes, em que durante a sua época foram incompreendidos e ignorados, e depois passam a queridos e adorados…Que vida cruel, esta!!!

Na minha modesta opinião, isto parece passar-se um pouco também com Mário Cesariny de Vasconcelos, o Poeta e Pintor Surrealista Português, (que nos deixou no passado Domingo, 26 Nov.), e que foi considerado “um dos mais importantes defensores do movimento Surrealista em Portugal”. Muitos até aqui, nunca tinham ouvido falar dele e agora, todos lhe querem prestar homenagens… é justo que o façam, só é injusto é não lhe terem dado o devido valor durante o seu percurso de vida…
O JN escreveu: “Não apreciava vénias, nem homenagens - recebeu apenas duas distinções em vida... "Estou num pedestal muito alto, batem palmas e depois deixam-me ir sozinho para casa. Isto é a glória literária à portuguesa", disse.”
Já a Min. da Cultura, Isabel Pires de Lira, considerou que Mário Cesariny foi “um artista marcante” e uma das grandes figuras da arte e da literatura portuguesas do século XX, “um nome determinante do surrealismo” em Portugal, com um perfil de criador e artista…
Enfim… restam agora as opiniões e sobretudo as obras que deixou… Quanto a mim… deixo aqui duas das obras "de um artista completo", tal como era considerado…

Em todas as ruas te encontro

"Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco."